Tereza Scheiner

SCHEINER (2)

Tereza Cristina Moletta Scheiner é uma museóloga brasileira, nascida no Rio de Janeiro. É coordenadora e professora do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio (PPG-PMUS) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Foi presidente do Comitê Internacional de Museologia (ICOFOM), de 1998 a 2001, e Vice-Presidente do Conselho Internacional de Museus, o ICOM, de 2010 a 2016.

Criadora e Consultora Permanente do ICOFOM LAM, o Subcomitê do ICOFOM no âmbito da América Latina e do Caribe, é uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento da pesquisa em Museologia e representante do pensamento sobre o campo.

BIOGRAFIA

→ Formação Acadêmica

Iniciou seus estudos na área de Desenho de Interiores (1965) e Arqueologia (1967) antes de ingressar na Museologia. Concluiu o Curso de Museologia no Museu Histórico Nacional em 1970, tendo sua habilitação para museus de ciências. Dando prosseguimento aos seus estudos, concluiu uma especialização em antropologia pela George Washington University, de 1968 a 1969, e uma segunda especialização em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no ano de 1972.

Obteve os graus de Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em 1977. Como formação complementar, se aperfeiçoou em áreas como Marketing, Editoração, Análise de Desempenho no Trabalho, Desenvolvimento Gerencial e Planejamento Estratégico para a Qualidade. Posteriormente, realizou o mestrado e o doutorado em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – ECO/UFRJ – concluindo-os respectivamente em 1998 e 2004.

→ Carreira Profissional

Desde sua formação no Curso de Museus, Tereza Scheiner trabalhou na área em diversas funções. Entre 1973 e 1980, para o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, onde participava como profissional de museu na gestão e preservação dos parques nacionais. Em 1985 e 1986 fez parte da equipe do Museu Histórico Nacional como Chefe do Setor de Exposições da Coordenadoria de Tratamento Técnico de Acervo. No MHN, também foi Chefe da Coordenadoria de Programas Educativos e Culturais, além de professora conferencista do Curso de Museus [1]. Entre 1985 e 1986, foi museóloga na Fundação Nacional Pró-Memória, e de 1986 a 1990 ocupou o cargo de museóloga na ELETROBRÁS. Entre 1991 e 2006, realizou exposições pela Tacnet Cultural, microempresa de consultoria em museologia que criou e da qual foi diretora.

Ingressou como professora de Museologia na Federação das Escolas Isoladas do Estado da Guanabara, FEFIEG, posteriormente FEFIERJ, em 1976. Em 1979, quando a FEFIERJ foi institucionalizada com o nome de Universidade do Rio de Janeiro – já com a sigla UNIRIO, que se manteve apesar da mudança de nome ocorrida em 2003, quando passou a se chamar Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – Scheiner manteve o seu cargo de professora na Graduação em Museologia. Na UNIRIO, Scheiner ocupou os cargos de Diretora da Escola de Museologia (1994-2000), Chefe do Departamento de Estudos e Processos Museológicos (1991-1993) e Decana do Centro de Ciências Humanas (1992-1997).

Sua participação no âmbito internacional pelo ICOM, no qual ingressou no início dos anos 1980, influenciou os rumos do curso. Em 1996, coordenou junto à também professora do curso Maria Gabriella Pantigoso, uma reforma curricular que representou um marco, tendo em vista que “sintonizou o curso de museologia com uma visão holística de patrimônio cultural e natural, além de enfatizar a interdisciplinaridade, inclusive com a área da Ciência da Informação” [2]. Essa modificação trouxe um modelo teórico-prático para o ensino de Museologia, e viria a ser usado como modelo na criação de novos cursos [3].

Tereza Scheiner colaborou com o desenvolvimento da Museologia no Brasil ao participar do processo de criação do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio (PPG-PMUS) no ano de 2006, a partir da parceira da UNIRIO com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Hoje, ela ocupa o cargo de coordenadora do programa [4].

Desde 2005, Scheiner é consultora para Museologia do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, e também faz parte, como revisora e editora, de periódicos e revistas como Ciência da Informação (Impressa e Online), Musas, Museum International, Revista Museologia e Patrimônio, Revista Eletrônica Jovem Museologia, International Journal of Intangible Heritage, Raízes e Rumos, Managing Leisure – an international magazine, Ciências em Museus, entre outras.

→ ICOM, ICOFOM E ICOFOM LAM

Em 1982, Scheiner iniciou sua trajetória dentro do ICOM – Conselho Internacional de Museus, do qual foi eleita vice-presidente em 2010, e reeleita em 2013. Ainda nos anos 1980, envolveu-se com o ICTOP – International Committee for the Training of Personnel (Comitê Internacional de Formação de Pessoal para Museus), onde participou da organização de eventos e desenvolveu pesquisas na área da formação em Museologia.

Em 1984, ingressou no ICOFOM – Comitê Internacional de Museologia – do qual foi eleita membro do “Board” em 1989, vice-presidente em 1993 e presidente em 1998. É membro do conselho do ICOM-Brasil e do Comitê de Ética. Começou a produzir conteúdo para o ICOFOM em 1986, publicando seu primeiro trabalho no ICOFOM Study Series [5].

Em sua participação no ICOM, surgiram reflexões que se desdobraram ao longo de sua carreira. No ICOFOM Study Series, “Scheiner expõe o seu pensamento sobre a Museologia, que ainda vigora nos dias de hoje, qual seja, que a Museologia, como qualquer ciência contemporânea, trabalha a partir da relativização do conhecimento” [6].

No ano de 1989, durante a 15º Conferência Geral do ICOM, é criado o ICOFOM-LAM, Subcomitê do ICOFOM para a América Latina e o Caribe, em reconhecimento à necessidade de fortalecimento do conhecimento produzido sobre a Museologia na América Latina. Tereza Scheiner e Nelly Decarolis passam a atuar em prol da Museologia na região por meio do Subcomitê. Scheiner é atualmente Consultora Permanente desse Subcomitê [7].

→ Pesquisas desenvolvidas
  • Termos e Conceitos da Museologia

Pesquisa realizada no âmbito brasileiro, vinculada ao Terms and Concepts of Museology, que é um projeto criado por André Desvallées em 1993 no seio do ICOFOM, com o intuito de discutir a terminologia aplicada à Museologia e proporcionar o domínio da comunicação do campo. Tereza Scheiner foi integrante do projeto desde 2005, juntamente com Diana Farjalla Correia Lima (que exerceu a função de coordenadora), André Desvallées e François Mairesse. O projeto foi financiado pelo ICOM e pela UNIRIO.

  • Museologia como Ato Criativo: linguagens da exposição

Projeto desenvolvido no PPG-PMUS, vinculado ao grupo de trabalho Theory of the Exhibition do ICOFOM, criado em 1999 por André Desvallées. Teve como objetivo discutir os processos teóricos e práticos que envolvem a criação das exposições museológicas, e os mecanismos de comunicação utilizados para atender a diferentes públicos nos museus, visando entender a Museologia na esfera do simbólico, como pensamento e ato criador. A metodologia de trabalho incluiu a análise comparada dos métodos e técnicas da exposição, em sua vinculação com as diferentes linguagens comunicacionais, e também o estudo das exposições como conjuntos simbólicos e instâncias narrativas. A partir dos dados obtidos, buscou-se identificar como as influências recebidas se revelam na estrutura narrativa das diferentes exposições, e analisar as diferentes linguagens comunicacionais que contribuem e/ou interferem na constituição do discurso expositivo de cada museu estudado.

Tereza Scheiner, que faz parte desde 2004, é hoje coordenadora do projeto na UNIRIO. São também integrantes Martin Schaerer, Rosane Carvalho, Anita Shah, José da Silva Dias, Julia Moraes, Monique Batista Magaldi, Suescun Flores e Lilian Mariela. O projeto é financiado pelo ICOM e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

  • Patrimônio, Museologia e Sociedades em Transformação: a experiência latino-americana

O projeto é um desdobramento brasileiro do Projeto “Patrimônio, Museologia, Museus e Sociedades em Transformação – da Opressão à Democracia” (Heritage, Museums and Museology for Social, Cultural and Environmental Transition – From Opression to Democracy), que se fundamenta na ideia de Museu como instância de inclusão e integração social, e faz a análise crítica das tendências contemporâneas do pensamento e dos modelos sociais, culturais e ambientais que influenciam o desenvolvimento da Teoria do Patrimônio e da Teoria Museológica. Associado ao ICOFOM e ao ICOM, foi criado em 1990 e se desenvolveu simultaneamente em diferentes países, entre os quais Rússia, Letônia, República Tcheca, Argentina e Brasil.

No Brasil, tem como objetivo geral investigar as relações entre as tendências contemporâneas do pensamento e as recentes articulações do meio sociocultural na América Latina, especialmente no que se refere aos modelos conceituais de meio ambiente e desenvolvimento, buscando compreender sua influência sobre o Patrimônio e a Museologia. O núcleo latino-americano inclui pesquisas realizadas na Argentina, e o projeto da UNIRIO, existente desde 2001, foi integrado ao PPG-PMUS em 2006. Tereza Scheiner compõe o projeto desde 2001, sendo hoje sua coordenadora. Vinos Sofka, falecido em 2016, foi um dos integrantes da equipe, que hoje conta com a participação de Tomislav Sola, Bruno Brulon Soares, Luciana Menezes de Carvalho, Marcela Maria Freire Sanches, Denise Adriana Argenta e Helena Cunha de Uzeda.

PONTOS DE VISTA SOBRE A MUSEOLOGIA

→ Museologia como campo: ciência ou filosofia?

A partir da necessidade de definir a identidade da Museologia, ainda em processo de elaboração (SCHEINER, 1986 [8]), Scheiner identifica três vertentes que a teorizam: uma “teoria do patrimônio”, onde é tratada a ideia de que para a Museologia existir, deveria fazer parte de algo maior; uma segunda vertente onde entende-se a Museologia como resultado da prática nos museus; e finalmente, uma terceira, que disseca o fenômeno museu em todas as suas manifestações, tentando dar à Museologia uma identidade enquanto filosofia ou ciência [9].

É sobre essa terceira vertente que Scheiner guiou o seu trabalho, buscando aproximar a Museologia da Filosofia, afirmando que inserindo-a num sistema filosófico “a tornaria uma disciplina de caráter ontológico, com sua própria episteme”, partindo do princípio de que a Filosofia aproxima o homem de si mesmo, fazendo-o melhor compreender o caráter plural dos mundos internos e externos que o atravessam, e tornando possível situar, de maneira mais clara, quais as relações do museu com as dimensões perceptuais do homem, num espaço configurado pelos cruzamentos entre o sensorial e o inteligível [10].

Para Scheiner, o fundamento ontológico da Museologia consiste na percepção complexa do real, visto que não há como enunciar as relações entre museu e mundo sem entender o que constitui esse real referido, sendo que para cada modelo de real, um museu será designado. Assim, iniciando a investigação pela face fenomênica do museu, busca compreender suas relações com o real, remetendo suas reflexões não à ciência, mas à filosofia (SCHEINER, 2011).

Com isso, Scheiner afirma que a Museologia como uma ciência contemporânea – defendendo um enfoque holístico – trabalha para relativizar o conhecimento, apresentando o Museu como um fenômeno, e não mais como um produto “ready-made” e nem da comunidade como uma entidade abstrata (SCHEINER, 1995).

→ O Museu Fenômeno

Influenciada pelas ideias de Stránský, Šola e Desvallées, e inserida no grupo de trabalho do ICOM que visava criar um conjunto de termos museológicos básicos, juntamente com Ivo Maroević, Peter van Mensch, Zbynek Stránský, André Desvallées e François Mairesse [11], Scheiner aponta que à medida que a Museologia contemporânea se delineava, buscando um enfoque mais holístico, seria necessário repensar o Museu.

Buscou então, a partir do mito grego das Musas, pensar a origem mítica do museu [12]. Para Scheiner, a origem do museu não estaria ligada ao Templo das Musas e sim às próprias Musas, que não eram deusas, “mas sim as responsáveis pela manutenção da identidade do próprio universo” [13].

“As Musas detêm o poder de tornar presente o que, sem elas, é ausente: é por isto que são a voz da memória, do que impede o esquecimento. Elas existem (e cantam) em continuidade – pois a memória não tem começo nem fim, não contém a origem do Cosmo e do Homem enquanto passado, mas, sim, como atualidade de um viver contínuo. E a memória não implica numa cronologia, é a presença e a consciência. Sem memória há o esquecimento, que equivale à morte (o não-ser)” (SCHEINER, 1999).

Com isso, Scheiner interpreta que o museu se origina na capacidade humana de recriar e trazer à memória; sendo assim, o Museu poderá existir onde o Homem estiver presente, conjurando a memória, trazendo o real, recriando-se continuamente e, por outro lado também se mantendo racional, como na contraposição arquetípica clássica entre Apolo e Dionísio, explorada por Scheiner em sua dissertação de mestrado [14].

Segundo Scheiner:

“Como fenômeno, o museu é livre e plural: pode existir em qualquer espaço, em qualquer tempo. Inexiste, portanto, uma forma ‘ideal’ de museu, que possa ser utilizada em diferentes realidades: o museu toma a forma possível em cada sociedade, sob a influência dos seus valores e representações” (SCHEINER, 1999).

Assim, o Museu não mais estaria restrito a um edifício com uma coleção preservada e em exposição ao público, e sim “podendo estar simultaneamente em muitos lugares, sob as mais diversas formas e manifestações” (SCHEINER, 1999). Portanto, o Museu estaria em constante transformação, acompanhando o mundo em que está inserido e a ele se adaptando.

→ O Patrimônio Integral e a Ecologia

Para Scheiner, as novas teorias do ambiente integral, que estão relacionadas com a lógica holística, como o paradigma ecológico e a Teoria de Gaia, de James Lovelock, foram influências para que o conceito de patrimônio fosse expandido pelos franceses como “Patrimônio Integral”, sendo entendido como “o conjunto de todos os bens naturais ou criados pelo homem, sem limite de tempo ou de lugar” [15].

O Patrimônio Integral foi percebido de forma concreta somente a partir da década de 1950. Tendo como cenário o pós-guerra, onde a violência, destruição e injustiça social ainda eram fortemente presentes na memória da população, começou-se a perceber a fragilidade da cultura material, que facilmente poderia ser destruída. Sendo assim, a vida passou a ser percebida como patrimônio para além da filosofia ou instâncias oficiais, pela própria população do planeta. Dessa nova forma de pensar resulta a conservação dos recursos naturais como alternativa para os problemas causados pela guerra. O Patrimônio Integral, nessa compreensão, seria um conceito relacionado a concepções holísticas de meio ambiente (SCHEINER, 1998).

→ O Museu Integral e o Ecomuseu

Desde 1949, na 7ª Conferência Geral dos Museus, a relação do patrimônio natural e cultural da humanidade com os museus já estava sendo tratada pela UNESCO e pelo ICOM, visando proteger o patrimônio num cenário de guerra. Em 1968, na 8ª Conferência Geral dos Museus, o ICOM reforçou o caráter comunitário dos museus, recomendando a priorização do museu de vocação regional. Na 9º Conferência Geral dos Museus, em 1971, é questionado o modelo do “museu tradicional”, quando o ICOM recomenda que as instituições museais aceitem que a sociedade está em constante mudança e que tem um dever para com a mesma: o de servir ao ambiente social onde encontram-se inseridas.

No contexto em que as duas últimas conferências aconteceram, a ONU desenvolveu um debate sobre a degradação dos recursos naturais e genéticos do planeta, e os riscos que o uso abusivo desses recursos traziam para a sobrevivência da humanidade. Assim, foi convocada pelo ICOM, em 1972, a Mesa Redonda de Santiago do Chile, no âmbito das discussões sobre o patrimônio e o meio ambiente, e sobre a responsabilidade do governo e agências promotoras do desenvolvimento em relação ao bem-estar da sociedade humana [16].

Na Mesa Redonda de Santiago do Chile se desenvolveu o conceito de Museu Integral. Sobre a carta gerada em Santiago, Scheiner apontou que o termo já existia no contexto do ecomuseu; o que as discussões em Santiago proporcionaram foi a definição da identidade do Museu Integral, e a possibilidade de estendê-lo para todas modalidades de museu. Para Scheiner, a oficialização desse termo fez com que a Carta de Santiago do Chile se tornasse uma matriz da museologia teórica.

Um segundo ponto levantado pela autora refere-se à tomada de consciência por parte dos museus em relação à sua missão social de fazer com que o homem se identifique com o seu meio natural e humano, levando-o à compreensão de que faz parte da natureza, e trazendo ao centro das discussões a importância do meio ambiente para a Museologia, e a necessidade de um maior engajamento social por parte do campo.

O terceiro ponto abordado por Scheiner é a importância da capacitação profissional para que esse engajamento se desenvolva. Na Mesa de Santiago foi recomendada a criação da ALAM (Associação Latino-Americana de Museologia). Segundo a autora, a proposta da ALAM relaciona a eficácia do engajamento social dos museus à participação de seus profissionais, e ressalta a importância da qualificação profissional para o trabalho nos museus. O projeto não foi levado à frente em função do momento político na América Latina, que estava atravessada por governos autoritários de direita.

Tereza Scheiner defendeu a ideia de que o Museu Integral se fundamenta “na capacidade intrínseca que possui qualquer museu (ou seja, qualquer representação do fenômeno Museu) de estabelecer relações com o espaço, o tempo e a memória, e de atuar diretamente junto a determinados grupos sociais” [17].

O ecomuseu, termo criado por Hugues de Varine em 1971, refere-se a um museu baseado num território e na relação deste território com o meio ambiente e a comunidade. Scheiner, apoiada pelas afirmativas de Georges Henri Riviére, diz que o ecomuseu não provém das mudanças propostas pela Mesa Redonda de Santiago do Chile, mas se origina a partir das experiências dos museus a céu aberto, museus ateliers e parques nacionais musealizados. O ecomuseu seria, portanto, uma forma de atualização do Museu fenômeno, estando adequado à época e ao meio social no qual surgiu, em continuidade com o museu tradicional e sem constituir a única forma de interação do museu com a sociedade. Scheiner admite que o ecomuseu é uma interessante forma das comunidades valorizarem e trazerem dinâmica para as suas relações com o espaço, tempo e patrimônios locais, desde que não seja utilizado como ferramenta, que pode levar à manipulação.

Para Scheiner, o ecomuseu deu origem a práticas museológicas voltadas para as “metodologias de apreensão e documentação de conjuntos patrimoniais, ao cruzamento de referências do patrimônio material e imaterial – os inventários de paisagens – e também ao desenvolvimento de estratégias de conservação pelo uso”. A teórica afirma que o ecomuseu age de acordo com as propostas do Museu Integral quando atua nas funções básicas da Museologia, relativizando o poder do especialista quando compartilha as decisões com as lideranças comunitárias, levando para dentro do museu as questões sociais [18].

→ Museu e comunicação: as teorias da exposição

Tereza Scheiner juntou-se, em 2004, a um grupo de trabalho coordenado pelo ICOFOM desde 1999, em torno da teoria da exposição como fenômeno museal. Titulada com um mestrado e doutorado em Cultura e Comunicação, Scheiner analisou especificamente os processos de exposição através do prisma das teorias da comunicação. A exposição, na produção de discursos destinados a públicos e grupos sociais específicos, gera e faz uso de diferentes tipos de linguagens, utilizadas na difusão do conhecimento em um contexto museal [19]. Scheiner analisa e compara os métodos, mecanismos e conceitos de comunicação criados em exposições para atender ao público, procurando desvendar as diferentes linguagens e lógicas que contribuem para o discurso da exposição emitido pelo museu.

Esse interesse pela exposição e suas práticas é encontrado em diversos artigos que escreveu para os ICOFOM Study Series (ISS). Ela enfatiza em primeiro lugar o papel social que a exposição desempenha, como um ponto de junção entre o indivíduo e o seu patrimônio, entre o museu, os objetos e a sociedade [20]. Por outro lado, afirma a necessidade da Museologia em desenvolver uma teoria da exposição que remeta às teorias da comunicação, a fim de examinar as maneiras pelas quais a exposição gera e transmite um discurso, de acordo com o tipo de interação que deseja estabelecer com o seu público [21]. É a definição da exposição como instância de diálogo.

Para Tereza Scheiner, a intervenção das teorias da comunicação no campo museal torna possível o estudo do museu como um vasto sistema de significação. A união entre museologia e comunicação, portanto, está alinhada com a teoria sobre o museu como sistema de comunicação, desenvolvida por Duncan Cameron.

A museóloga também afirma que a exposição é a base fundamental para a relação do público com o museu, sendo por meio dela que a comunicação é feita, mostrando ao público as relações do ser homem com a natureza. Sem a exposição, o museu seria apenas um conjunto de coleções e laboratórios. A partir desse conceito, a autora relacionou, em seu artigo no ISS 19 [22], alguns tipos de museus e suas particularidades quanto à exposição. A autora questiona, através da Teoria da Comunicação, a fruição do diálogo da exposição, partindo da perspectiva de adequação do museu ao seu entorno. Define, assim, alguns modelos de comunicação museal:

  1. Museu Tradicional – exposições apresentadas de forma cronológica, temática, analítica ou estética. O principal objetivo é transmitir uma mensagem para o público, independente da forma na qual a exposição é estruturada, com o único intuito de fazer com que o público olhe para ela.
  2. Museu Interativo – exposições com o propósito de incentivar o visitante a tirar suas próprias conclusões a partir de suas sensações e percepções.
  3. Museu Natural – possuem um espaço para a exposição na qual os visitantes têm fácil compreensão das coleções, tendendo a acompanhar as características do Museu Tradicional.
  4. Ecomuseus – tendem a estar subordinados à paisagem, por isso não precisam usar nenhuma técnica museográfica específica, visto que a exposição se constitui por si só. O patrimônio cultural e natural faz parte do museu e da mensagem que quer emitir.

INFLUÊNCIAS

Tereza Scheiner recebeu em sua obra a influência do tcheco Zbynek Z. Stránský, precursor de uma Museologia que busca o reconhecimento como disciplina científica e social, e que representou o ponto de partida para o desenvolvimento de suas teorias acerca do “Museu Fenômeno”.

Waldisa Rússio [23] teve um papel preponderante em sua carreira, pois foi quem a levou a participar do ICOFOM [24]. Dessa influência resulta a intensa e sistemática produção de Scheiner no ICOM e ICOFOM, colocando-a em contato com autores como Hugues de Varine, George Henri Rivière, Vinos Sofka, André Desvallés, François Mairesse e Tomislav Šola.

AUTORES INFLUENCIADOS

Autores como o próprio Stránský, Maröevic, Deloche e Rusconi, que tomam como base de análise o museu enquanto fenômeno, foram influenciados pelas teorias desenvolvidas por Tereza Scheiner acerca do tema.

Além disso, toda uma geração de museólogos inspirou-se em suas publicações para desenvolver suas pesquisas em diversos âmbitos da museologia, incluindo os brasileiros Anaildo Baraçal, Bruno Brulon Soares, Luciana Menezes de Carvalho, Monique Magaldi, entre outros de seus alunos.

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